
Era assim, um universo seco. Os caminhos feitos de pequenas linhas se encontravam com outros caminhos, se bifurcavam e se uniam, como um mapa desenhado em couro velho, uma coisa meio passada. Lembrava um pouco a textura dos documentos antigos, a cor amarelada, as ranhuras minúsculas, os pontinhos de mofo parecendo poros abertos, muito abertos.
Através da lente de aumento observo o tal solo seco. Nenhuma vegetação. A devastação não é só provocada pela falta da benção da hidratação – santa água que tudo lava e tudo salva. É aquele tipo de devastação que resulta da passagem do tempo – o oráculo implacável - que vem com o castigo do sol e do vento, pelo açoite da areia, e, quase certo, pelo acréscimo generoso de uma boa dose de decepções, sofrimentos e agressões cotidianas.
Embora seco, crestado, gretado, meio sem vida, o solo conta uma história. Ignorar a sensação de desolamento é impossível. Dá assim uma tristeza meio distante, uma saudade que não sei bem de onde, nem do quê. Nostalgia. Banzo. Como se, além de seco fosse deserto, quente, rascante e...longe. É como olhar para mim mesma, lá atrás.
Sou agora a grande exploradora. Procuro tesouros enterrados no solo seco. Segredos de tumbas, grandes revelações, um corpo mumificado, um livro amaldiçoado, um poço dos desejos oculto na paisagem, jóias talvez.
E embora seja divertida a brincadeira de explorar, caio na real. O tempo de agora me chama. Preciso me apressar. Acendo aquela maldita lâmpada fluorescente que amplia as imperfeições e concluo que pele seca é uma merda. É duro ser mulher numa segunda-feira de manhã.
2 comentários:
é...
Adoro suas mulheres.contos..pequenas parcelas de vida...
abraço.
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