quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Releituras


Estava relendo o blog de um querido amigo. Ele escreveu sobre os motivos que nos fazem gostar da vida, querer ficar vivos, e essa coisa toda que esquecemos quando as notícias do nosso jornal pessoal ficam ruins. Belo texto.
Querido, anota aí na sua lista de motivos as nuvens vistas de cima quando sobrevoamos uma cidade qualquer, a bordo de um desses aviões que não caem nem viram manchete. Parecem massas de algodão mágico em mutação. É um bom motivo.
...
Em dia de releituras, peguei um dos textos que gosto - Ligéia, do Poe. Que força têm aquelas palavras. Ligéia, uma mulher inteligente, articulada, perspicaz, com profundos e expressivos olhos grandes como a lua, presa, enclausurada num corpo tomado por uma estranha doença que a faz sofrer, e mesmo assim, querendo que seu amor sobreviva à morte. Menos otimista que meu amigo do blog, Poe não deu um final feliz à Ligéia, o que não diminui em nada a beleza e a construção fantástica do conto do velho Edgar.
Gosto tanto, que transcrevo aqui um trecho. Tomara que gostem também.

"Falei da cultura de Ligéia. Era imensa. Conhecia as línguas clássicas e modernas. E as ciências. Todas. Mas eram conhecimentos profundos, espantosos. Tanto que eu me sentia uma criança primária e me deixava guiar por ela no mundo da pesquisa física, da investigação, metafísica. Parecia saber tudo, e eu me curvava diante de sua esplêndida lucidez. E eu vivia estudando, pesquisando, ilustrando sempre mais a minha mente. Realmente, eu dependia dela para tudo. Até para pensar, resolver, solucionar. Para viver.
Agora vocês imaginem a minha situação quando de repente me vi sem Ligéia. Sim, eu a perdi. E fiquei como uma criança perdida tateando a escuridão.
Ligéia adoeceu. Dia a dia, acompanhei o trabalho da morte. E lutei como um desesperado. Mas as lutas de minha esposa eram mais vigorosas que as minhas. Não há palavras com força bastante para descrever a encarniçada resistência com que ela lutava contra a morte. Ela não queria morrer.
Mas morreu.
Eu era muito seguro do amor que Ligéia tinha por mim. Na morte, porém, tornei-me mais consciente da força de seu amor. Segurando-me a mão, fez-me repetir versos compostos por ela nos últimos momentos.
Nesse poema, comparava a vida a uma peça em que a morte era o último ato. E, descido o pano, apagadas as luzes, descobre-se que a peça é uma tragédia:
‘- O homem, e seu herói, o verme conquistador.’"

1 comentários:

melissa anjos disse...

"...com profundos e expressivos olhos grandes como a lua..."
Ravi isso é a sua cara, o seu zoio e, a sua lua, grande do tamanha da vida e da beleza que vc me inspira!
xelu...
miau.