sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Iluminura



Ele me sabe. Me conhece. Me decifra. Sabe que pode andar entre tudo o que há de mais incerto em mim. Sabe dos meus dias de espera, das minhas noites insones. Sabe que meu amor é feito de fogo e incenso, que arde, mas não destrói. Sabe que tenho inúmeras portas trancadas, mas tem a chave para abrir a cada uma delas.
Me conhece porque vê além dos meus olhos; vê com meus olhos. Percebe que cada gesto significa um outro gesto, guarda ou revela, mostra ou insinua. Conhece o real sentido dos meus sentidos. Conhece as pequenas e grandes reações que cada toque seu, cada palavra sua podem desencadear. Passeia soberano pelos abismos e pelas planícies de mim. Abre minhas janelas para que entre a luz.
Me decifra porque me lê com o cuidado de um arqueólogo que dedica a vida a compreender os sinais que encontra na cidade perdida que sempre procurou. Me lê como a um livro revelador, buscando suas respostas em cada pequeno traço deixado no papel em que me imprimo. Porque possui todos os códigos que me acessam.
Me sabe porque sabe a si mesmo. Porque sou como ele. Porque sou ele. Porque somos nós.

6 comentários:

Sheyla Amaral disse...

Íntimo e delicado.

Unknown disse...

Macío e de bom gosto. Delicioso.

Unknown disse...

alguem aí, musica isso aqui que eu quero ouvir na Radio Eldorado e depois tentar tocar de ouvido ...
Bjks.

Rodrigo Souza disse...

"Me decifra porque me lê com o cuidado de um arqueólogo que dedica a vida a compreender os sinais que encontra na cidade perdida que sempre procurou."

Decifrar a Esfinge, escapar de seus dentes já revelados duas vezes e vê-la atirar-se no vazio. Penso que Édipo perdeu grande chance ali naquela tarde em Tebas. Era garoto, não jogou na esportiva...

Jana Lauxen disse...

Sensacional.
Você escreve muito bem, dona moça!

:)

Cami disse...

Captou a minha alma, e a dele também.

Adorei!
Parabéns e sucesso!

Bjs